A potência por trás de "Bloco do Eu Sozinho", novo single de Filho da Bruxa
- Miriam Fidelis

- 25 de out.
- 4 min de leitura
Atualizado: 28 de out.
Em single carregado de excelência e brasilidade, Filho da Bruxa cria uma narrativa sensível sobre a solidão imposta pela rotina e a beleza de seguir sonhando.
Em um cenário musical que prioriza hits genéricos, surge "Bloco do Eu Sozinho", single lançado no final de setembro por Filho da Bruxa, carregado de conceito, identidade e muita originalidade.

Produzida por Vitim do RB e mixada por DJ Tio Rico, a faixa se estabelece como um retrato sonoro do cotidiano. Sua produção transita entre os lados doloroso e reflexivo da realidade, traduzindo em melodia a rotina de quem equilibra responsabilidades, frustrações e, ainda mantém a confiança para construir o próprio destino.
A faixa, que conta com a colaboração da artista, produtora e escritora Renata Britto, consegue a proeza de ser um relato intimista. Ela oferece um respiro e um espaço para a revolta contra o cotidiano a quem encontra na arte esse refúgio.
A PRODUÇÃO
Vitim, revela como foi a produção: “Em busca de um sample, encontrei esse ritmo que tem muita brasilidade, boemia, melancolia, mas uma vibe boa. Encaixou muito bem na proposta”.
E como encaixou! As batidas são pura brasilidade, daquelas que pede uma cerveja gelada, o calor do carnaval e almoços de família aos domingos. O produtor acertou muito ao equilibrar um ritmo contagiante e convidativo para o movimento, e uma melancolia sutil que convida à refletir na mensagem da letra.

A COMPOSIÇÃO
Além da produção, a força da música materializa na letra, representando uma geração cansada. Filho da Bruxa contextualiza:
“Quando escrevi a letra, trabalhava de domingo a domingo no regime CLT, com apenas quatro folgas no mês. Todo dia, eu pensava muito nisso: sei que consigo fazer um bagulho diferente, tá ligado? Sabia do meu potencial, mas estou trabalhando pra um cara que não sabe da minha existência, que tá pouco se fudendo pra minha vida".
Esse desabafo é a semente! A letra retrata o desgaste de uma geração aprisionada na rotina esmagadora da escala 6x1. A experiência em longas jornadas de trabalho é sintetizada no verso: "Vou ter que partir, tenho que cumprir 10 horas de CLT".
Esse trecho, não é um mero detalhe, mas demonstra como o trabalho atravessa e compromete a qualidade de nossas vidas, do lazer aos afetos, da saúde à conquistar sonhos.
A música se expande explorando a tensão entre afeto e liberdade:
"Proximidade em excesso acaba gerando carência
O amor é um fuzil que não pode faltar cadência".
No trecho acima, interpreto como os laços podem se tornar armadilhas quando a rotina e a dependência suprimem a individualidade. No entanto, a metáfora do "fuzil" não é um elogio ao conflito, mas enfatiza que o amor precisa ser um sentimento constante.
Enquanto o Carnaval exalta coletividade, o "Bloco do Eu Sozinho" reflete a realidade de quem precisa aprender a dançar consigo mesmo. É na tensão entre a necessidade do coletivo e a solidão imposta, que a música revela a potência nas entrelinhas, forjando o perfil de quem resiste pelo humor e através da criação.
E é aí que a metáfora se completa. O artista explica que "Bloco do Eu Sozinho" é um grito de revolta sobre viver em uma geração que sorri mesmo carregando pesos invisíveis. Para ele, a música fala sobre se agarrar naquilo que mantém corpo e alma vivos: os nossos sonhos. Seu conselho final é: "Acredite em você e nos seus sonhos".
Se o Carnaval, em todo seu frenesi coletivo, um dia acaba, assim também passam os momentos difíceis. E o fim de um ciclo é o convite para que novos carnavais, e novas possibilidades, possam renascer. É justamente essa a lição que ecoa do trabalho de Filho da Bruxa: o artista acreditou no próprio potencial e criou algo sincero e potente. Sua rotina exaustiva não gerou um bloqueio, mas uma revolta transformada em combustível, mostrando que é possível conquistar o que se almeja, mesmo quando tudo ao redor parece conturbado e impossível.
Essa produção chama atenção para a forma que subestimamos e ignoramos a potência de artistas locais, como a cena 034, que produz trabalhos tão ricos e representativos. Enquanto buscamos referências longe, em outros estados e países, deixamos de perceber a excelência que brota no nosso próprio bairro, na nossa cidade. Precisamos aprender a valorizar, apoiar e reconhecer os talentos que nascem no nosso território.
“Se eu fosse poesia
E o mundo não fosse uma máquina de moer sonhos
Talvez eu não precisasse pensar em como o poema chega ao fim, não haveria fim”
— Renata Britto
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Entrevista por: Miriam Fidelis | Redatora Cultural Hip Hop & Cientista
















