The Monika’s e a desafiadora produção de “Muvuca”
- Miriam Fidelis

- 16 de ago.
- 5 min de leitura
Lançado no primeiro semestre de 2025, "MUVUCA" chegou na cena como um manifesto sonoro do The Monika's, expressando toda a identidade, desafios e desejos do grupo, em uma mixtape dançante e intensa.
The Monika’s é um grupo independente de hip-hop formado por mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ negras, surgido em meados de 2017, motivado pelo desejo de cantar e dar voz a vivências que, até então, não encontravam espaço para serem compartilhadas. Desde o início, enfrentaram limitações, inclusive no estúdio onde começaram a gravar.
Em um cenário desafiador para o hip-hop, a formação encara obstáculos ainda maiores: preconceito, falta de oportunidades e invisibilidade. Ainda assim, seguem firmes, impulsionadas pela resistência e pela certeza de que suas vozes e sua arte merecem ocupar todos os espaços, não apenas por direito, mas também por inspirarem outras pessoas a se reconhecerem, acreditarem em si e continuarem criando.

MUVUCA é a resposta!
Um manifesto sonoro que nasce da favela, da pista e da resistência preta e LGBTQIAPN+, refletindo um momento de diversão e fortalecimento coletivo vivido pelo The Monika’s. O nome traduz o espírito desse processo: uma verdadeira muvuca criativa, em que as ideias se encontraram de forma intensa e orgânica, resultando em um trabalho que expressa identidade, desafios e desejos compartilhados.
Nessa mixtape, o caos se transforma em arte, e a arte em revolução. A intro de "Muvuca" é o grito coletivo que abre os caminhos: um chamado para entrar de corpo inteiro nessa celebração.
Da intensidade de “Caliente” à provocação de “H.Y.D.R.A.”, passando pelo corre urbano de “Hora do Rush” e culminando no empoderamento preto de “Black Beauty”, o trabalho reúne vozes potentes que carregam corpo, história, sentimentos reais e posicionamento político.
Em “Som de Preto”, a força, o ritmo e a mensagem de artistas pretos ganham forma em um som que é, antes de tudo, afirmação de identidade, cultura e resistência. Já em “Controla” é um ritmo que chega com pressão, presença e postura: uma batida que comanda o corpo e uma letra que domina a mente, convocando quem joga com atitude e não abaixa a cabeça.

A produção musical da Mixtape "MUVUCA" é assinada por P10 e lançada pela gravadora Sixs Records. A criação e as vozes são dos integrantes Andréa Felix, Juhydra, Nega Braba, P10 e Yga. O projeto também traz participações especiais de Karma Sauce (ex-integrante) e Tunyn, com P10 atuando ainda como DJ e produtor do grupo.
Por aqui, gostamos de aglomeração de pessoas em celebração. Batemos um papo com o The Monika’s sobre MUVUCA.
HOP ENTREVISTA: THE MONIKA'S | "MUVUCA"
HOPTV: Como foi o processo de composição e produção das faixas?
The Monika’s: O processo foi majoritariamente coletivo. Cada integrante trouxe referências, ideias e vivências que se somaram de forma orgânica, às vezes começava com uma melodia ou beat, outras vezes surgia de uma letra ou até de um conceito visual. Não existe uma função fixa para cada pessoa, mas ao longo do tempo alguns caminhos foram se formando naturalmente: tem quem se jogue mais nos beats, quem escreva letras com mais fluidez, quem pense nos visuais e até quem traga ideias de movimento e performance. Mas tudo é atravessado pelo diálogo e pela construção em conjunto.
HOPTV: Qual foi a primeira música criada?
The Monika’s: A primeira música foi Caliente. Ela nasceu quase como um experimento, num momento em que o grupo ainda nem sabia que estava começando uma mixtape. Era só vontade de criar, de dizer o que precisava. Essa faixa acabou sendo a semente: a partir dela, entendemos que ali havia potência, uma energia e que valia a pena criar.
HOPTV: Como vocês definem a estética sonora de MUVUCA?
The Monika’s: A estética sonora transita entre afrobeat, trap, funk, reggaeton, vogue beat e tudo mais que atravessa nossos corpos. Não seguimos uma fórmula, fizemos o que fez sentido naquele momento, com liberdade. O nome já diz muito: é barulho bom, é multidão criativa, é mistura que faz dançar, pensar e se expressar, celebrando e potencializando vivências de quem resiste nas margens.
Em "Black Beauty", a potência toma forma de manifesto:
“Black Beauty, I'm a boss, eu tô portando os kit
Me odeiam, mas querem meu drip.
Baby, eu sou caro, meu bonde é o terror da elite
Vai ter que aturar os preto chique.”
Para P10, esse não é apenas um refrão com flow — é a tradução da resistência e do orgulho preto: “Não tem mais como ignorar nossa presença, nossa estética, nossa potência. Tentam diminuir, mas no fundo querem ser como a gente. Os preto chique chegaram, e vão ficar”.
E essa força se soma à intensidade poética e afetiva em “Controla”:
"Controlou a minha mente com um ciclo permanente
Quebrou as correntes do meu coração
Jogo viciante, vício perigoso
Mexe com meu corpo, jogo de sedução"
"Fala na minha cara
Que eu sou seu
Vem me encara
Só teu olhar já me dispara
A sensação de estar em casa"
HOPTV: Quais foram os maiores desafios durante a produção?
The Monika’s: Os principais desafios foram a escassez de recursos financeiros e a dificuldade de alinhar os horários dos integrantes, já que todos conciliam o projeto com outras atividades e compromissos profissionais. A rotina foi intensa, com jornadas esporádicas e até deslocamentos entre cidades, como o caso do P10, que trabalha em outro município. Trabalhamos de forma totalmente independente, equilibrando nossas rotinas pessoais com a dedicação ao projeto. Foram muitas madrugadas de ensaio, entrega total até a exaustão. Mas a vontade de fazer acontecer nos manteve firmes. A MUVUCA é uma grande vitória, a junção certa de talentos com propósito comum e, pra gente, é só o começo.
HOPTV: Como vocês enxergam a evolução do som do grupo até agora?
The Monika’s: Acreditamos que a evolução do nosso som está muito evidente nessa mixtape. Conseguimos encontrar nosso estilo musical, nossa identidade e a sonoridade que nos representa enquanto grupo. Foi um processo importante de auto descoberta artística, e isso também aparece nas nossas letras, que carregam ainda mais personalidade e atitude.
Como por exemplo, no trecho de "Caliente" cantado por Andréa Félix:
"Sinta-se dominado pela pretona que sou eu.
Coitado desse macho que não deu valor e me perdeu!"
Com MUVUCA, o grupo busca fazer com que o público se sinta parte dessa festa — acolhido, representado e livre para dançar, cantar, se divertir e se expressar sem medo. A mixtape é um convite à liberdade, à representatividade preta e LGBTQIAPN+, e à construção de um espaço de pertencimento onde cada corpo e cada voz têm lugar.

Cada faixa é um convite para mergulhar em um ambiente seguro, no qual é possível extravasar angústias e celebrar potências. E a MUVUCA não para por aqui: The Monika’s pretende levar esse som para além dos fones, com clipes, shows e performances ao vivo. Mesmo diante das limitações, o grupo segue trabalhando com dedicação para transformar essa muvuca em movimento — no palco, nas telas e em todo lugar onde a arte possa ecoar. Fica o convite: se joga nessa muvuca!
"MUVUCA" está disponível no Youtube e Spotify. Ouça trechos do novo projeto de The Monika's abaixo e adicione em sua playlist!
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Entrevista por: Miriam Fidelis | Redatora Cultural Hip Hop & Cientista








