Vaine lança “Tudo Aqui Me Consome” e transforma crise existencial em arte afiada
- Vithor Laureano

- 26 de jul.
- 3 min de leitura
Com uma letra que cutuca o vazio do consumo, um beat contemplativo e um videoclipe cheio de camadas, o novo single do rapper Vaine joga luz sobre as angústias silenciosas da vida moderna e nos convida a escutar, sentir e pensar.
“Tudo aquilo que eu comprei ainda me consome”. A frase que se repete no refrão não é apenas uma rima marcante: é um espelho. Em seu novo lançamento, o rapper e artista visual Vaine mergulha fundo nas contradições da existência urbana para entregar um trabalho denso, crítico e extremamente pessoal. Intitulado Tudo Aqui Me Consome, o single foi lançado no dia 11 de julho, em todas as plataformas digitais, com direito a videoclipe oficial no YouTube.

A música é, antes de tudo, um exercício de honestidade. Entre o desejo e a frustração, o consumo e o vazio, Vaine traduz em palavras aquilo que tantas vezes sentimos, mas não conseguimos nomear. “Você tem o celular, mas falta o fone. Matriculou na academia, falta a roupa certa” — versos que escancaram a lógica de um sistema que nos vende a ilusão de completude em parcelas suaves.
O ponto de partida da faixa foi, segundo ele, quase banal: um anúncio nas redes sociais de um suporte para copos no braço do sofá.
“Eu nem sabia que aquilo existia, mas em cinco minutos já tava fazendo conta pra ver se dava pra comprar. Foi aí que me peguei pensando no quanto o consumo vinha ocupando um espaço que antes era da criação”, relembra.
A estética do colapso também está presente no videoclipe, assinado por ele mesmo. Com sobreposições de imagens, colagens e referências a animações como Carol e o Fim do Mundo e Entrelinhas Pontilhadas, o clipe costura crítica social e melancolia urbana com precisão visual rara no rap nacional. A direção reflete o caos do presente, onde tragédias e tutoriais de maquiagem aparecem na mesma rolagem de tela.
O som, por sua vez, bebe de uma fonte boombap existencialista. Há ecos de artistas como Jean Tassy e Yago Oproprio, mas com uma assinatura própria: entre o lirismo e o incômodo, Vaine constrói paisagens mentais que conversam tanto com quem vive no centro quanto na margem.
Vaine: o artista que carrega a cidade na voz
Aos 29 anos, Vaine é uma das vozes mais singulares da cena independente atual. Nascido na Zona Leste de São Paulo, ele vive há uma década em Uberlândia, cidade onde consolidou sua trajetória artística e tornou-se referência na cultura hip hop local. Sua escrita é densa, sua estética é apurada, e sua obra tem como eixo a política íntima — aquela que nasce do cotidiano, da memória e das tensões do presente.
Seu primeiro trabalho foi a mixtape 'De 011 a 034' (2019), passando pelo 'EP Encosto' (2020), até chegar ao álbum 'Colibri' (2021), onde nove das dez faixas ganharam videoclipes animados por ele mesmo. Mais que rapper, Vaine é artista visual, educador e pensador urbano. Seu rap não busca tendências: ele constrói caminhos. Seu nome está cada vez mais associado a uma cena que valoriza a profundidade em vez da fórmula.

Entre rimas e realidades, ele transita com coragem por temas como racismo, capitalismo, masculinidade, saúde mental e memória afetiva. Suas referências vão de Emicida e MV Bill a autores e animadores existencialistas, numa síntese entre cultura pop e crítica radical. E é justamente dessa fusão que nasce a força de Tudo Aqui Me Consome.
“Criação tem muito a ver com manter viva a criança interior”, diz o artista. Mas seu olhar sobre o mundo é de quem cresceu — e escolheu continuar sensível. Neste novo single, ele nos lembra que não é preciso ser herói ou ter todas as respostas. Basta estar atento. E transformar a angústia em arte.
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Texto por: Vithor Laureano | Jornalista & Redator Cultural
Créditos: Connect Press








