Nem sempre é terapia, mas é terapêutico: como arte e saúde mental estão relacionadas?

Diferentes formas de arte podem ajudar na elaboração e na expressão de sentimentos, além de funcionar como objeto de identificação coletiva.

Quantas vezes, depois de ter contato com uma obra de arte (uma música, um quadro, uma peça de teatro, livro ou filme), você se sentiu compreendido de uma maneira especial? E, por outro lado, quantas vezes produzir algo artístico te ajudou a descarregar a mente e, até, em alguns casos, a organizá-la? Arte e saúde mental, como se sabe, estão completamente relacionadas.

Esse é o poder da arte, em suas mais diversas formas. “A arte, de fato, é uma forma de expressão humana. Na verdade, qualquer um do reino animal poderia fazer algum tipo de expressão. Mas quando nós dizemos ‘humana’, dizemos tanto de criatividade, intenção e de uma certa consciência. Nem todo tipo de arte é uma expressão totalmente consciente. Há sempre um intercâmbio entre consciente e inconsciente”, afirma o Coordenador do curso de pós-graduação em Arteterapia da FMU, Sandro Leite.

A relação da arte e saúde mental também já foi demonstrada cientificamente diversas vezes. Um estudo de 2003 observa um resgate da autonomia, diminuição da solidão, melhora da autoestima e da sociabilidade em pacientes da terceira idade do Instituto de Psiquiatria da UFRJ.

E o que é arte? Bom, você já sabe: conhece-se as artes visuais, a música, a literatura, o teatro, a dança, o cinema, mas novas formas de expressar-se estão sempre sendo articuladas. E o poder terapêutico das expressões artísticas vão além de mera percepção: existem técnicas oficiais de utilização da arte como terapia, como são a Arteterapia e a Musicoterapia.

“A música sempre foi utilizada ao longo da história para promover a saúde e o bem-estar das pessoas. Platão, por exemplo, via a música como um instrumento importante para moldar o caráter de uma sociedade, sendo capaz de ser usada para ensinar o bem e a beleza para a alma humana”, conta a musicoterapeuta Talita Lopes.

A música é uma forma de arte que tem muito poder sobre nossa mente, explica Lopes. “Hoje, com os avanços nas pesquisas, sabemos que a música acessa o cérebro de forma integral, ativando áreas relacionadas à linguagem, movimento, emoções e cognição. A música pode servir como um canal através do qual a pessoa transmite suas emoções.”

Na arteterapia, por sua vez, explica Sandro Leite, as sessões envolvem muitas técnicas, a que ele prefere chamar de “artes”, no plural. “É possível utilizar recursos sonoros, musicais, dramáticos, corporais, imaginação de imagens, imagística, etc”.

Para além do consultório, o Arteterapeuta afirma que as artes afetam a mente de diversas formas. “A condição terapêutica não se trata só de expressar, mas vem muito em função de um certo alívio, de um certo prazer, mas também de uma certa consciência. Mesmo [tendo contato] sozinho, qualquer tipo de arte pode ser terapêutico. Se eu estou estressado, por exemplo, ouço uma música e aquilo me causa um relaxamento, então, aquela música, naquela condição, tem uma conotação terapêutica que talvez nem fosse a intenção do músico.”

Diante disso, compreendemos que inserir o contato com a arte no nosso dia a dia possui efeitos terapêuticos reais, mesmo que estejam fora de uma terapia formal. Consumir arte, por um lado, contribui para a reflexão, criação de novas ideias e para a identificação com o contexto histórico-cultural em que estamos inseridos. Por outro lado, produzir alguma forma de arte — qualquer que seja ela — pode causar bem-estar, contribuir para a elaboração de temas e expressar nosso inconsciente. Agora que você já sabe o poder da arte, que tal compartilhar a sua?

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Texto por: Milena Félix | Jornalista & Escritora