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Câmeras Negras, Histórias Diversas: A Importância de Uma Equipe Técnica Negra

  • Foto do escritor: Nicole Kate
    Nicole Kate
  • 20 de nov. de 2024
  • 6 min de leitura

No cinema brasileiro, a presença de narrativas e talentos negros sempre foi ofuscada, mas até quando? Falando de representatividade, onde cabe o corpo negro dentro e fora das telas? 

Atrizes recebendi direcionamentos da Diretora Larissa Dardania durante o set de filmagem de Zoya, filme independente e autoral da cineasta

Atrizes Tatiane Breve e Sophia Souza conversando com Diretora Larissa Dardania durante o set da produção "Zoya" | Foto por: Felipe Vianna


Depois de anos de resistência e insistência é notável um volume diferente nas produções atuais quando o assunto é: atores negros como protagonistas. Porém, vale um olhar vigilante de que tipo de protagonismo é esse, muito das representações que se vê, trata-se de interpretações repetitivas, marginalizadas, em situação de serviço ou sendo o corpo sexualizado


POR TRÁS DA CÂMERA

É crucial entender que esse protagonismo vai além de quem aparece diante das câmeras; trata-se também de quem, invisivelmente, constrói as obras que consumimos e é aqui que queremos abordar a importância de uma equipe técnica negra. Trazendo alguns dados sobre o assunto:

Em 2016, o Governo do Brasil reportou que nenhum filme foi dirigido ou roteirizado por uma mulher negra. Além disso, apenas 2,1% dos longas-metragens produzidos e lançados no país foram dirigidos por homens negros, enquanto 19,7% ficaram a cargo de mulheres brancas e impressionantes 77,5% foram dirigidos por homens brancos. Esses números falam por si só e evidenciam uma exclusão gritante.

Bastidores do curta-metragem Zoya, na foto diretora de fotografia e 2AC

Making of do set de "Zoya" | Foto por: Felipe Vianna


Fechando um pouco mais o nosso leque e indo para um esfera regional do que estamos vivenciando hoje no mercado audiovisual uberlandense, é muito recente a regulamentação de algumas leis de incentivo onde torna obrigatória a presença de pessoas racializadas na equipe de um projeto.


A FICHA TÉCNICA 

Então nosso cenário está engatinhando rumo à algo que pode trazer um pouco mais de esperança para nós cineastas negros. Assistir produções e ver corpos negros nas telinhas deve ser motivo de vitória mas não podemos nos ludibriar, ainda mais quando quem dirige e roteiriza é o homem branco de classe média alta.


Nossas narrativas ainda estão sob domínio dos mesmos, dos mesmos que nos marginalizam em nossos papéis. Quando profissionais negros ocupam posições de menor relevância em tomadas de decisões, seus olhares, experiências e vozes também são silenciados, limitando a diversidade das histórias contadas.

Diretora e atriz do filme Zoya brincam de telefone sem fio

Diretora Larissa Dardania e atriz Sophia Souza nos bastidores de "Zoya" | Foto por: Felipe Vianna


Precisamos questionar: por que as pessoas negras são frequentemente relegadas a papéis secundários ou a funções que não refletem seu talento e potencial? Essa exclusão não apenas enfraquece nosso cinema, mas também empobrece a experiência do público que consome essas obras, limitando a pluralidade das narrativas.


É urgente fomentar uma maior participação de profissionais negros em cargos de tomada de decisão, de impacto visual, linguístico, artístico, nas vestimentas, no próprio elenco e também na parte executiva dentro da indústria cinematográfica brasileira.


OLHANDO PRA CÁ

Para não ficarmos apenas no campo da ideia, quero trazer à tona uma produção local e independente que foi contemplada pela Lei Paulo Gustavo nesse ano de 2024, o curta-metragem “Zoya”, dirigido e roteirizado pela cineasta emergente, Larissa Dardania

Cineasta Larissa Dardania dirigindo cena do eu curta "Zoya"

Diretora Larissa Dardania no set de "Zoya" | Foto por: Felipe Vianna


Em 2020 seu primeiro trabalho como direção foi o Álbum Visual "Liberdade" de Natania Borges, realizado de forma totalmente independente com a colaboração de mais de 70 artistas negros e LGBTQIAPN+ das cidades de Uberlândia (MG) e Salvador (BA), trabalho finalista como Melhor Vídeo em formato estendido no m-v-f Awards 2020 (SP). 


Em 2020 lançou "Mantido em silêncio como se fosse segredo" um curta-metragem de autorrepresentação com duração de 6 min, onde atuou, dirigiu e produziu. Em 2021 realizou "Gestos de Proteção" um curta experimental que usa da fotografia híbrida como recurso, um trabalho que percorreu ao longo do seu lançamento, 11 festivais de cinema nacionais e internacionais e recebeu 2 prêmios no estado de Minas Gerais, FAC e Energia da Cultura e o Prêmio Olhar Inovador no Festival Entre Todos.


De acordo com a diretora, Zoya foi um projeto pensado para fortalecer profissionais que ainda são minorias e possibilitar um intercâmbio entre profissionais de longa e curta carreira no mercado. 


ZOYA 

'Zoya' é um curta-metragem de ficção do gênero suspense/mistério. Uma experiência cinematográfica sensorial e intimista que narra a história de uma menina de 10 anos que mora com a mãe em uma casa simples localizada na roça. O ponto de partida da trama é a morte de Muriel, cachorra de Zoya. A partir daí, Zoya encara os próximos acontecimentos de forma curiosa e confusa, apresentando ao espectador um mistério instigante do começo ao fim.

Zoya observa seu passarinho de estimação

Still do filme Zoya que será lançado no mês de novembro em 2024 | Foto por: Felipe Vianna


Para além do elenco, o projeto valoriza a representatividade na equipe, que é majoritariamente composta por pessoas negras, mulheres e LGBTQIAPN+. Inclui tanto profissionais experientes quanto aqueles que estão começando suas carreiras. Essa interação cria uma formação profissional rica e essencial, já que o desenvolvimento de novos talentos é crucial para o desenvolvimento do setor audiovisual. 


INSIGHTS 

Para colher ainda mais insights sobre essa realidade, conversei com a cineasta Larissa Dardania, que compartilhou suas experiências e reflexões sobre a criação de sua obra “Zoya”.

Foto da equipe no set de filmagens de "Zoya"

Equipe da produção cinematográfica "Zoya" | Foto por: Felipe Vianna


Ela compartilhou uma reflexão poderosa que a guia em suas criações: “Para mudar o que é contato, é preciso mudar quem conta". Para ela, um set que desafia a hegemonia e inclui vozes pouco representadas têm o potencial de transformar qualquer filme. Sobre "Zoya", Dardania destacou o prazer de estar no set com aquelas pessoas, ressaltando que esse processo já fez tudo valer a pena.


Ao abordar um gênero pouco explorado em obras nacionais, questionamos a cineasta sobre como ela define sua linguagem cinematográfica: “Zoya simboliza perfeitamente o tipo de cinema que desejo deixar como legado. É um desafio dissociar minha identidade pessoal da minha atuação como diretora, mas sigo por três linhas: criar um cinema autoral que reflete minha história e vivências, explorar a estética do afrofuturismo e mergulhar em narrativas que envolvem mistério, folclore e crenças, temas que me interessam profundamente."

Atrizes principais do curta "Zoya" posam para foto durante os bastidores de gravação

Na foto, Tatiane Breve como Ester e Sophia Souza como Zoya. As duas compõem parte do elenco de "Zoya" | Foto por: Felipe Vianna


Mergulhando na atmosfera do cinema e na vivências de cineastas independentes, estreitamos um questionamento latente que atinge muitos, principalmente quem está começando no mercado audiovisual:


Sabemos que grande parte do cinema regional é possibilitado através das leis de incentivo à cultura, “Zoya” é um exemplo disso. Para além dos editais, pensando em um cenário de exploração criativa do artista, especificamente cineastas, como você exercita a sua criatividade enquanto diretora? Você sente alguma dificuldade nesse processo? Pensando que muitas das vezes artistas independentes dedicam anos inteiros na escrita e elaboração de projetos e não tanto na prática e experimentação de suas ideias. 


“A realização de sonhos é um desafio, especialmente na arte, que requer financiamento e apoio, sendo essa uma grande barreira para artistas independentes. Para superar isso e evitar a inércia, é importante adotar a mentalidade de "uma ideia na cabeça e uma câmera na mão". Embora isso nem sempre seja possível, é necessário esperar o momento certo para projetos mais ambiciosos, foi assim que fiz com Zoya. Para iniciativas menores, o cinema de guerrilha, essa habilidade de trabalhar com recursos limitados nos fortalece como artistas e nos prepara para conquistas maiores”.


A falta de protagonismo negro no cinema está profundamente enraizada em um sistema que se recusa a reconhecer e celebrar a riqueza da cultura e das narrativas afro-brasileiras. Ao apoiarmos novas vozes e criadores que buscam se expressar, estamos nos posicionando diante um mercado ainda elitizado e branco.


Fazer cinema independente negro e brasileiro ainda é uma resistência às estruturas da indústria, por isso iremos e devemos continuar. Obras como “Zoya” são fundamentais para ampliar essas vozes e desafiar as narrativas dominantes, mostrando que a representação e o protagonismo negro são essenciais para a riqueza e a autenticidade do cinema nacional. Vida longa ao Zoya, que promete chegar com tudo nos festivais de cinema pelo Brasil e mundo em 2025.

Sua primeira vez em nosso site? Nos acompanhe no Instagram (@hoptelevision) e fique por dentro de tudo que rola na cena independente regional e nacional.


Texto por: Nicole Kate | Artista independente e redatora

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