top of page

Quando o peito canta: uma noite com menores atos em Uberlândia

  • Foto do escritor: Vithor Laureano
    Vithor Laureano
  • há 2 dias
  • 4 min de leitura

Do Noise Sessions ao abraço coletivo, um relato de quem viveu a cena autoral pulsar no Haja Glória.


Entrei no Haja Glória com a ansiedade boa de quem pressente algo importante. A casa já respirava encontro: amigos se achando no meio da névoa de luz, conversa baixa antes do primeiro acorde, aquela atenção silenciosa que antecede o impacto.


Nos dias anteriores, a sensação era de contagem regressiva. Grupos de mensagem girando em torno do mesmo assunto, playlists revisitadas no caminho do trabalho, gente combinando de sair mais cedo só para chegar na hora e sentir a passagem de som vibrando no peito. Era como se o relógio tivesse ganhado um compasso próprio até a porta abrir.


Público se fez presente no Haja Glória, na primeira passagem da menores atos em Uberlândia
O público se vez presente no Noise Sessions, com direito a casa lotada | Foto: Brunno Lifonso

A Última Instância abriu a noite como fósforo no escuro. Direta, pesada, honesta. A apresentação mostrou o trio de Antonino Machado, Rafael Bizinotto e Juninho Silva com uma coerência rara: riffs tensos que empurram a sala para a frente, baixo que amarra o corpo das músicas e bateria que conduz com firmeza sem perder sensibilidade. As letras chegaram sem pose, com propósito, e a presença de palco foi de quem sabe entregar sem desperdício. Foi a faísca que ajusta o foco e prepara o peito, e deixou aquela vontade imediata de ver de novo.


A Imune veio para alongar o fôlego e ocupar o espaço com intenção. Canções que crescem por dentro, refrões que se abrem como janela. A voz de Gabriel Rangel encontrou agudos que parecem apoiar o teto, as cordas e sintetizadores de Halyson Vieira costuraram climas com cuidado, e a bateria de Gabriel “Negriel” Ribeiro guiou tudo com precisão de quem conhece as curvas da casa. Teve música nova, teve o repertório que muita gente esperava ouvir, e teve a sensação rara de assistir uma banda local soar grande porque tem algo a dizer.


Imune foi a banda escolhida para abrir o show da menores atos em Uberlândia
Imune retornou aos palcos após uma breve pausa em 2024 | Foto: Brunno Lifonso

A Gramofones foi o meu momento de descoberta. Emo de nervo exposto e humor melancólico, daqueles que fazem a tristeza parecer companhia e não peso. Refrões certeiros, guitarras com presença e um jeito de ocupar o palco que convida a entrar na história. Saí do show com vontade de voltar às músicas, como quem encontra um livro no meio da estante e decide começar pela metade.


Então o menores atos. Quando eles apareceram, o ar mudou de densidade. Não é só volume, é vibração. A primeira música já colocou todo mundo no mesmo compasso, e a sensação foi de conversa antiga retomada no ponto exato em que havia parado. “Devagar” veio como abraço que aperta e alivia. A dinâmica da banda faz a letra ganhar corpo; quando o refrão abre, é a garganta dizendo aquilo que o peito não sabia nomear. “Miopia” acerta em cheio no lugar onde a saudade e o agora se encontram, com aquela guitarra que insiste até que a emoção fique nítida. E “Sereno” foi o auge do coro; dava para ouvir a cidade cantando junto, cada verso devolvido com a força de quem precisava dizer aquilo ali, exatamente daquele jeito.


Cyro Sampaio, vocalista da menores atos, em Uberlândia
Cyro Sampaio, front man da Menores Atos | Foto: Vithor Laureano

O que me atravessa no menores atos é a combinação improvável de precisão e descontrole. Arranjos que desafiam o ouvido, mas nunca desviam do sentimento. Letras que parecem escritas para um, cantadas por muitos. É a prova de que intensidade e delicadeza cabem na mesma música quando o que se busca é verdade. O set passeou pela história da banda e trouxe o presente com a mesma firmeza. “Fim do Mundo” apareceu como capítulo recente que já soa definitivo. Nada sobrou, nada faltou.


No fim, ficou claro o que uma noite assim diz sobre a cidade. Cena se constrói com obra. O Noise Sessions e o Cena Cerrado mostraram que abrir espaço para som autoral não é luxo, é fundamento. A Última Instância acendeu, a Imune expandiu, a Gramofones apresentou um caminho novo, e o menores atos entregou a catarse que faz o corpo entender por que a gente insiste.


Cyro Sampaio com fãs no final do show da menores atos em Uberlândia
Um breve encontro no show da Menores Atos, com Cyro, Vithor & Cia | Foto: Arquivo Pessoal

Saí do Haja Glória com a memória recente batendo no peito. Não era só um show. Era a lembrança física do coro, o breve silêncio depois do último acorde, o abraço que resolve o mundo por três segundos. Se me perguntarem por que essa banda pesa tanto, respondo sem rodeios: porque transforma grito em abraço e faz a gente se reconhecer enquanto canta. Numa sexta-feira em Uberlândia, a música lembrou que ainda sabemos respirar juntos. E foi lindo.



Sua primeira vez em nosso site? Nos acompanhe no Instagram (@hoptelevision) e fique por dentro de tudo que rola na cena artística independente regional e nacional.


Texto por: Vithor Laureano | Redator Cultural & Jornalista

ENVIE O SEU FEEDBACK
Avalie-nosRuimNão muito bomBomMuito bomÓtimoAvalie-nos

Obrigado por enviar!

© 2022 por HOP TELEVISION. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Instagram - White Circle
  • YouTube - Círculo Branco
  • TikTok
  • Spotify - Círculo Branco
  • Facebook - Círculo Branco
bottom of page