Filho da Bruxa e o Impacto de "Terceiro Testamento"
- Miriam Fidelis
- 14 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
'Terceiro Testamento' aborda vivências pessoais e busca subverter o mainstream, destacando o hip-hop como resistência e expressão autêntica.
Terceiro Testamento é uma ideia que surgiu em 2017, quando Filho da Bruxa planejava lançar seu primeiro álbum. No entanto, por falta de recursos, o projeto não se concretizou. Anos se passaram, e o conceito permaneceu em sua mente, até se transformar em mais uma produção da cena. O 'Livro de Enoque', excluído das escrituras bíblicas, inspira o álbum como uma subversão das narrativas tradicionais. Para o artista, o álbum é uma subversão: "a minha forma de contar o que eu vi e vivi”.
O foco principal foi transmitir mensagens significativas, algo que ele percebe estar cada vez menos presente no mainstream, que tende a valorizar aspectos mais rasos e superficiais. Em contraste, o underground oferece um espaço autêntico para artistas compartilharem suas vivências por meio de produções autorais enriquecidas por colaborações potentes.
O artista revelou que o álbum foi pensado para quem realmente valoriza e admira, sem intenção de criar algo voltado ao mercado, buscando afirmar o caráter genuíno e pessoal: “Isso é minha vida, nada inventado”. Durante a entrevista, Filho da Bruxa também destacou a importância de sua religiosidade como uma força essencial que o sustentou ao longo de todas as etapas, e após enfrentar inúmeros desafios, conseguiu concretizar uma importante etapa de sua carreira com o lançamento do álbum.
Capa e contracapa de 'Terceiro Testamento' | Fotografia por Tarcísio e Design por Britto
O ÁLBUM
Composto por 10 faixas escolhidas dentre as 15 gravadas, a produção apresenta destaques que refletem o impacto emocional e criativo do trabalho.
Uma das faixas mais especiais para o artista é "Caminho", que traz versos marcantes sobre sua vida, evocando uma nostalgia de infância repleta de diversão, apesar das lembranças difíceis. Essa faixa, além de sua relevância pessoal, possui um significado especial para sua mãe, que teve papel central em sua formação.
Junto com Vaine e Iohanna, a faixa "Por mim não existiria" pode ser vista como a idealização de um mundo melhor sem 'drogas, armas, crimes e policiais'.
Entre as faixas do álbum, "S.O.S", composta em 2020, ganha destaque por representar diferentes momentos do processo criativo. Além disso, "Reinado", que conta com a participação de Ivy, tem sido uma das preferidas entre os ouvintes.
"Se flores morrem", faixa em parceria com Judeu (integrante da 3000), aborda a complexa relação entre o artista e sua criação. Em seus versos é dito:
"Eu amo a arte, mas ela não me deixa amar outras coisas. Não pense que é uma reclamação, mas na arte me encontrei, na arte me perdi."
O álbum se destaca por sua autenticidade, oferecendo uma criação que busca transmitir vivências reais, servindo como ensinamento para os dias de hoje. Desde o lançamento, a obra tem se conectado de maneira marcante com os ouvintes e os movimentos culturais, gerando novas experiências para o público que o acompanha, mas principalmente ao artista.
O Impacto do Álbum
Com apresentações memoráveis, como o show de estreia na Batalha da Z.O. — produzida pelo próprio artista — e a celebração de um ano do álbum CHUCRILHOS (Sertão da Farinha Podre), é notável que tem sido momentos significativos, contando com colaborações de Ivy, Judeu e Mariana Cantão como backvocals, que enriqueceram a produção. O público tem reagido de forma entusiasmada, valorizando não apenas a qualidade musical, mas também o aprendizado e a troca proporcionados nas apresentações.
PLANOS FUTUROS
Com diversas frentes de atuação no Hip Hop, como artista e produtor, Filho da Bruxa revelou planos futuros, que incluem o lançamento de uma marca de roupas. Questionado sobre o legado que deseja deixar para a próxima geração da cultura Hip Hop em Uberlândia, destacou a importância de enxergar o movimento como uma responsabilidade que vai além da arte, exigindo estudo e comprometimento. Para ele, estar em movimento na cultura é sinônimo de manter os sonhos vivos.
Show de Lançamento de Terceiro Testamento na Batalha da Z.O | Foto por: Renata Britto
Este projeto contou com a colaboração de diversos artistas e produtores talentosos. Durante nosso bate-papo, Filho da Bruxa agradeceu as participações de Judeu, Mariana Cantão, Vaine, Ivy, Iorrana Jullyce, Rafael Xavier, Dj Japa, B.O.Xbeats, Tella, Caio Andrade e Dj DanadoMG, pela mixagem e masterização. A fotografia da capa e captação por Tarcísio. Design, direção geral, roteiro, produção executiva e storyboard por Britto, além da Direção de fotografia e pós produção de RED.WL.
"Um agradecimento a Bruno Silva, que iniciou minha trajetória musical e me convidou para integrar a Treze Clan Prod, além de sempre apoiar a promoção da cultura na Z.O".
Como redatora e amante da cultura hip-hop, vejo Terceiro Testamento como a essência do que o gênero representa: resistência e narrativas reais. Cada faixa é um reflexo das vivências de Filho da Bruxa, mostrando como 9 anos na cena moldaram sua qualidade. O álbum não se limita a seguir tendências; é uma obra construída com cuidado e propósito, que celebra o poder do hip-hop de contar histórias cotidianas e de dialogar com o público. É um trabalho que inspira, fortalece a cultura e reafirma a importância de artistas que honram suas raízes.
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Texto por: Miriam Fidelis | Redatora Cultural Hip Hop & Cientista
