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  • Foto do escritorNicole Kate

A cultura mora nas margens: entenda a invisibilização e os desafios além das aparências midiáticas

Atualizado: 10 de abr.

Vocês já sabem que a cena independente muitas vezes é injustiçada, e quando falamos da cena underground, a situação fica ainda mais complexa. Por muito tempo, uma pergunta insistia em ecoar na minha cabeça: como pode tanto talento não poder ocupar lugares de destaque? A resposta é bem simples e chega a ser óbvia. Se você é um artista independente e está me lendo saiba que o que de fato te impede de ocupar determinados espaços e lugares é o seu dinheiro, ou melhor, a falta dele.

Já estamos no início do ano de 2024, e como todo final e começo de ano, a galera tira um tempo para prestigiar quem teve movimentações notórias e já deixa uma brecha para o que podemos esperar do ano que se inicia. O que me levou para esse assunto foi uma live da artista independente Nabru (@nabruoriginal), cantora e compositora da cena de BH, onde ela dá a visão sobre os reais interesses por trás dessas listas de "Melhores do Ano" que rodam por aí através de diferentes canais do meio artístico. A live está salva até o momento e o recado que ela aborda é exatamente sobre isso: nós não podemos basear ou mensurar nossos passos em canais que não estão interessados em de fato consumir o que produzimos.


Vídeo da cantora Nabru, presente na foto, inspirou a crítica sobre a cultura que mora nas margens

Artista Nabru | Foto: Instagram @nabruoriginal


O que eles fazem ali é puramente por interesse de mercado; sim, você tem seu espaço, basta comprá-lo. O que obviamente desmotiva qualquer um, pois a questão é: como posso ter mais recursos para entregar algo melhor se ninguém me nota? Por mais que essas nuances possam parecer bobas, e mesmo sabendo dos bastidores desses canais, o público muitas vezes não tem ciência disso e realmente acredita que uma menção no Instagram, uma presença em alguma lista, ou qualquer coisa do tipo seja, de fato, um recorte fiel da realidade – e gostando ou não isso traz sim uma validação para o artista.

Nós, artistas locais e independentes, carecemos de validação, mas para além disso é cansativo fazer tudo por amor. Sim, amamos o que fazemos, mas isso não paga as contas, não compra o arroz, não cobre a conta de luz. O que nos leva a assumir rotinas duplas, às vezes até triplas de trabalho para poder arcar com o trampo, assumindo todas as etapas de produção, pesquisa, execução, marketing e assim por diante. 


A cultura mora nas margens: Aulas de Teatro a céu aberto também fazem parte da discussão

Mesmo se tratando de eventos gratuitos, às vezes sem remuneração para o artista, ainda assim há muitos espaços vazios nas plateias e infelizmente esse fato engloba não só a música como também o teatro, as galerias e etc. | Foto: O Globo Rio

Aparecer nas mídias é legal mas só isso também não nos sustenta e muita das vezes não paga nossa dignidade, isso precisa ficar claro para o público mas também para nós enquanto classe artística para evitarmos maiores frustrações com o nosso trabalho e sermos realistas, gentis com os nossos processos. Dá para apontar diversas pontas soltas desse emaranhado de ideias, mas gostaria de destacar dois: o primeiro, a informação não está chegando em quem precisa e o segundo, a gente perde por não conhecer e isso não é culpa nossa.

Falando sobre o primeiro ponto, é crucial encarar a realidade. Embora a maioria dos eventos ocorra no centro ou nas proximidades, os grandes centros não dominam a cena cultural de Uberlândia. Essa situação não é exclusiva da nossa cidade, mas é uma realidade comum em muitas outras. Como resultado, perdemos não apenas um público mais específico e identificado com nossa produção, mas também talentos que, devido às dificuldades de acesso e à falta de visibilidade, acabam considerando irrelevante expor seu trabalho. A verdade é que a cultura e a arte residem nas margens, e é desses lugares que emergem o repertório de grandes nomes nacionais que todos conhecemos. 


A cultura mora nas margens: Jovens se reunem semanalmente em Uberlândia para Batalhas de Rima

Público se reúne em praças públicas aqui da cidade de Uberlândia para batalhas de rima - é nas ruas que nascem grande parte dos coletivos que movimentam a cena cultural | Foto: Vandarte


O segundo ponto é a falta de conhecimento, e isso não é coincidência. Nós, artistas independentes e locais, não dispomos das informações necessárias para vivermos da arte de maneira digna. Quantos artistas da cena você conhece que realmente sabem redigir um projeto para um edital público? Desconhecemos o que chamam de “método”. Recentemente, tive que pedir ajuda a um colega do meu trabalho para emitir uma nota fiscal por uma apresentação que realizei – algo básico, e que muitos de nós não sabemos fazer. Não é por preguiça, é simplesmente porque o acesso não é facilitado, não nos proporcionam uma linguagem usual, não querem nos ensinar.


Diante dessas reflexões sobre a realidade da cena independente, é evidente nossos desafios. A falta de reconhecimento, a influência do dinheiro nos espaços de destaque e a complexidade dos bastidores midiáticos são apenas as pontas desse iceberg. Como contrapartida a tudo que foi dito é crucial entender o mercado sem se iludir por métricas superficiais, promover a compreensão entre artistas e público é fundamental. Devemos buscar informações que fortaleçam nossos valores para que a gente não os venda, usando isso em nosso favor para sabermos a hora de sermos estratégicos ao divulgar nosso trabalho. Afinal, somos artistas e merecemos prosperar. Para finalizar, não se esqueça: a cultura mora nas margens, e você também.

 

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Texto por: Nicole Kate - Redatora e Artista independente

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