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  • Foto do escritorNicole Kate

O que Manu Gavassi tem a ver com a cena local?

“Programa de proteção à carreira artística, em que posso ajudar?”


Antes de começarmos esse assunto eu preciso que você assista a esse vídeo, caso ainda não tenha visto e isso não faça parte da sua bolha.


Falar de Manu Gavassi e cena local me parece um tanto quanto desafiador, então senta que lá vem. O objetivo desse texto não é destrinchar sobre a carreira e as  produções da cantora em questão, mas sim criar um gancho entre o tema desse vídeo em específico, dirigido e roteirizado pela Manu, em paralelo com o que, mesmo se tratando de uma esfera local, diz muito sobre a logística das coisas e o próprio rumo delas por aqui.


No curta, Manu levanta uma discussão envolvendo a cultura pop dentro da indústria musical. Embalado por diversas sátiras, o vídeo retrata o descaso cada vez mais evidente que a indústria tem com o que significa ser artista, dando cada vez mais prioridade aos números, aparições e o quão você consegue se manter na mídia. Mais vale a polêmica bem feita do que uma música bem escrita.


Manu Gavassi se depara com o livro do programa de proteção à carreira artistica

Enquanto classe artística independente precisamos organizar nossos direitos para não virarmos massa de manobra na mão de grandes produtores | Foto: Captura de tela do curta/ YouTube Nas cenas, Manu busca insistentemente falar sobre suas criações e é o tempo todo cortada pela “atendente”, que traz em sua fala, um ideal daquilo que é considerado sucesso e que pode finalmente salvar a carreira da artista.


Baseado no que assistimos quero te mostrar uma coisa. Atualmente existem dois caminhos que um artista ao conceber sua arte pode seguir, o caminho conceitual ou comercial. O que isso de fato significa? Vou te explicar…

Manu Gavassi ao ouvir as sugestões da assistente parece se incomodar com a situação

No vídeo, Manu representa a classe artística que já atingiu números e espaços nacionais e até internacionais | Foto: Captura de tela do curta/ YouTube Para exemplificar isso melhor eu preciso falar do que é ser artista, com base é claro na minha experiência. Falar da arte de um artista é como falar dele em uma mesa longa com todos os assentos ocupados de pessoas que não o conhece mas estão ali bebendo o sangue e comendo da própria carne e pele do artista.


É o clichê de estar nu em uma sala cheia de pessoas, constrangedor ao mesmo tempo que reenergizador. É um paradoxo, se sentir vivo pela adrenalina de estar exposto e isso conversar com o íntimo do outro. Olha o tamanho disso!


Eu não te conheço, você não me conhece mas a arte nos une, o meu conceito comunica com algo que igualmente está preso no seu interno. Essa comunicação também fala sobre identidade, vivências, autoestima, a arte tem o poder de despertar coisas em nós, das mais superficiais até as mais profundas, podendo alcançar nossos  segredos mais íntimos. 


No vídeo e Manu Gavassi, ela traz um foco para esse pequeno aquário com um único peixe

Estar vulnerável é ter que lidar com você, suas sombras e dores num espaço transparente e exposto como esse aquário | Foto: Captura de tela do curta/ YouTube

A arte sempre vem para comunicar uma mensagem do artista ao público, seja ela qual for, e é nessa hora que o conceito entra para esse jogo. Para além da etimologia da palavra é também o nome atribuído por artistas quando vamos falar de suas criações. O conceito de determinado trabalho de um artista diz sobre a essência e mensagem que quem o criou quer passar para o seu público.


O conceito fala daquilo que gosto de chamar de entranhas. Pode parecer meio exagerado mas é exatamente isso, nosso trabalho quando carregado de conceito e quando esses conceitos partem de nós, estamos fadados à vulnerabilidade.


A imagem da Manu Gavassi sendo usada em um catalogo

A vida não é um catálogo, mas o sistema e o algoritmo faz parecer ser | Foto: Captura de tela do curta/ YouTube

Já o comercial fala de uma produção muito mais focada no retorno, na venda do objeto e às vezes esse objeto é inclusive o próprio artista. Ou seja, se no conceitual há um movimento de dentro para fora no comercial é sobre o que o externo pede e o artista reproduz, muita das vezes sem grande envolvimento e quase sempre na sombra de grandes produtores, empresas - já que sobreviver demanda jogo de cintura. 


É difícil para um artista sobreviver apenas de conceito, boa parte da renda dos artistas que vivem de arte vem dos trampos comerciais que eles fazem e se é daí que vem o dinheiro não podemos idealizar, é preciso pés no chão para entender aquilo que nos cabe. Então estou aqui para atiçar e levantar questionamentos, é possível afinal unir o prazer ao dinheiro?


É possível viver do que faz sentido para você, aquilo que te alimenta a alma enquanto artista e ainda assim balancear com o que as pessoas estão interessadas em consumir? Quem está disposto a isso? 

Manu Gavassi em cena performando a assistente que supostamente tem um plano para salvar a carreira dela

O mundo real é cheio de armadilhas, inclusive do modelo que vem sendo pregado do que significa ter sucesso | Foto: Captura de tela do curta/ YouTube Nos últimos tempos ando refletindo sobre isso, tem sido um grande ensinamento para mim entender que enquanto humanos que vivem em um mundo material não podemos negar a matéria, não dá para fingir que não é com a gente e seguir como se as leis mundanas não existissem, precisamos gabaritar as dinâmicas do mundo real.


Então aqui não falo sobre ceder, mas sim trazer um novo olhar sobre o fluxo do dinheiro, de que maneira ele pode chegar até mim com uma maior facilidade? Como posso ocupar determinados espaços e ainda assim levar aquilo que acredito? Como posso intervir? É de certa forma trazer uma ressignificação.


Eu entendo que muita das vezes nós pegamos uma certa birra, e de fato é uma guerra injusta mas precisamos aprender temperar e ponderar com o olhar de quê sim eu sei jogar o jogo do sistema mas eu tenho lucidez para saber que por mais real que o jogo pareça ainda é só um jogo. Nós precisamos aprender a usufruir, plantar para colher e levar a colheita para quem necessita do nosso fruto, eu sinto que a cena local ainda não sabe se articular para que isso aconteça fora da tese. 


Manu Gavassi em seu curta metragem falando com uma assistente sobre sua carreira

No final parece um looping, realmente é possível sair desse ciclo? Me arrisco a responder essa…Sim! | Foto: Captura de tela do curta/ YouTube Vocês podem perceber que o vídeo da Manu ele ao mesmo tempo que traz uma denúncia ainda assim esteticamente há um conceito trabalhado, o roteiro consegue amarrar e entregar uma linguagem comercial em um produto que julgo conceitual.


Não somos nenhuma Manu Gavassi, estamos navegando em águas locais, mas precisamos tatear e flertar com o comercial, não de forma limitante ou como quem foi castrado, mas sim de uma maneira estratégica. Para hackear o sistema primeiro precisamos mergulhar de cabeça nele, entender a dinâmica de dentro para fora te fará retornar para casa muito mais munido, pronto para enfrentar produtores e empresas.


No embate entre o que vende e o que realmente nos convence, como sair dessa situação inteiros? Essa é uma conversa que fica para outro momento, em uma matéria futura, a provocação está montada…


O que você acha de tudo isso? Vamos conversar!


 

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Texto por: Nicole Kate - Redatora e Artista independente


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