Mineiro Beat 2025: crônica de um fim de semana em que Uberlândia respirou música
- Vithor Laureano

- 21 de set.
- 3 min de leitura
Famílias, amigos e gerações se misturaram no Itororó Park Club em dois dias gratuitos; um relato de quem esteve lá, entre coros, rodas e abraços — e saiu com uma pergunta ecoando: “Pra você, o que é a música?”

Cheguei ao Itororó com a sensação de que a cidade tinha combinado de desacelerar. Antes de olhar para o palco, vi famílias inteiras chegando, crianças em carrinho e de bicicleta, mães com filhos adolescentes, casais idosos caminhando devagar, grupos de amigos fazendo fotos e rindo. Uberlândia parecia ter marcado um encontro consigo mesma.
O Mineiro Beat falou de música e, sobretudo, de convivência. O gramado virou plateia e passagem ao mesmo tempo. Entre um palco e outro, o que se via era gente muito diferente dividindo o mesmo ar, disposta a viver as horas como quem abre a janela depois de um dia longo. A pergunta do festival voltava o tempo todo: pra você, o que é a música?
No sábado, a resposta tomou várias formas. Gabriel O Pensador acendeu o coro de memórias coletivas; a banda empurrava e a multidão devolvia cada frase como se fosse de agora. Luedji Luna costurou delicadeza e firmeza, afinando silêncio e canto até que a atenção do público virasse matéria. Boogarins conduziu um transe manso de guitarras em espiral e vozes suspensas, um tempo próprio que prendia o olhar.
O set de Sugar Hill manteve a pista atenta, narrativa de vinil em cada virada. Funk-se trouxe a pulsação orgânica de quem conhece o corpo da cidade. Entre descobertas e reencontros, Amanda Bred, Cachalote Fuzz & Tagore, Skeeter B2B Xavbeatz e Viniish acrescentaram camadas — do groove à distorção, do laboratório eletrônico ao recorte de pista.
No domingo, o chão respondeu de outro jeito. Com KL Jay, rodas de b-boys se abriram e fecharam ao redor das batidas, passos afiados marcando a memória do hip hop. Na linha de frente da Ebony, a maré vinha de frente: mãos erguidas, olhos atentos, urgência transformada em presença. Muñoz empilhou riffs que fazem tremer as pernas; Jack Will, ao lado de Luiz Salgado, celebrou Pena Branca & Xavantinho com sotaque de casa, lembrando que tradição também é futuro.
Samba Flor convocou roda e canto, e Felipe Antunes, Laissy Mel e Philipim reforçaram a sensação de que cada artista abria uma porta diferente para o mesmo lugar. Com Criolo, a vibração virou afeto visível; um abraço coletivo se formou na plateia, havia choro silencioso e sorrisos abertos, como se cada pessoa tivesse encontrado uma resposta íntima para a mesma pergunta.
No meio disso tudo estavam as conversas, os encontros, os passos lentos entre um palco e outro. Um festival público faz essa costura rara: mistura ritmos, histórias e possibilidades, prova que acesso não é sinônimo de superficialidade e lembra que a cidade cresce quando aprende a escutar.

Fica também a vontade de voltar. Quem esteve ali sabe que o Mineiro Beat não termina quando o som cessa: ele segue reverberando no que a cidade imagina para o ano que vem. A expectativa é de mais mistura, mais encontros e novas pontes entre gerações. A Hop Television estará de novo no gramado e nos bastidores, ouvindo artistas e público, para registrar o que a música tem de mais potente: o encontro. Até lá, fica o convite para você responder com a gente: “Pra você, o que é a música?” — e seguir acompanhando nossas coberturas nas próximas edições.
Se me perguntarem agora, respondo sem rodeios. Música é a interrupção do automático. É o instante em que as diferenças não desaparecem, mas caminham juntas. É quando o coro de desconhecidos respira no mesmo compasso. Depois do Mineiro Beat 2025, fica fácil dizer: música é o encontro que continua quando o som termina. É a memória que a gente leva no corpo, o peso bom de ter estado presente. E, por um fim de semana inteiro, Uberlândia esteve.
Sua primeira vez em nosso site? Nos acompanhe no Instagram (@hoptelevision) e fique por dentro de tudo que rola na cena artística independente regional e nacional.
Texto por: Vithor Laureano | Redator Cultural & Jornalista
























